[resenha] A cidade do Sol



Título: A cidade do Sol
Autor: Khaled Hosseini
Editora: Nova Fronteira
Nº de páginas: 364
Lançamento original: 2007
Lançamento no Brasil: 2008
Mariam tem 33 anos. Sua mãe morreu quando ela tinha 15 anos e Jalil, o homem que deveria ser seu pai, a deu em casamento a Rashid, um sapateiro de 45 anos. Ela sempre soube que seu destino era servir seu marido e dar-lhe muitos filhos. Mas as pessoas não controlam seus destinos.
Laila tem 14 anos. É filha de um professor que sempre lhe diz: ''Você pode ser tudo o que quiser.'' Ela vai à escola todos os dias, é considerada uma das melhores alunas do colégio e sempre soube que seu destino era muito maior do que casar e ter filhos. Mas as pessoas não controlam seus destinos. Confrontadas pela história, o que parecia impossível acontece: Mariam e Laila se encontram, absolutamente sós. E a partir desse momento, embora a história continue a decidir os destinos, uma outra história começa a ser contada, aquela que ensina que todos nós fazemos parte do ''todo humano'', somos iguais na diferença, com nossos pensamentos, sentimentos e mistérios.
''O rapaz enfiou o revólver na cintura da calça e disse algo a um só tempo maravilhoso e terrível.
- Por você - respondeu ele. - Eu usaria isso para matar alguém por você, Laila.
Ele chegou mais perto e suas mãos se tocaram uma vez, e outra mais. Quando, com alguma hesitação, os dedos de Tariq tentaram segurar os seus, ela deixou. E quando ele se inclinou subitamente e encostou seus lábios nos seus, ela também deixou.''

Parte 1:
   Mariam era uma harami, uma bastarda.
   Ela vivia coma  mãe, Nana, em uma Kolba nos arredores de uma aldeia próxima à cidade de Herat, bem longe dos olhos e das línguas que pudessem manchar a reputação de seu pai. Jalil era um homem rico que possuía muitas terras, lojas e cinemas, 3 esposas e 10 filhos (sem contar com Mariam). Para a menina ele oferecia apenas algumas horas de afetos durante as quintas-feiras e uns poucos presentes baratos, mas isso era o suficiente para que a menina o amasse.
   No seu aniversário de 15 anos, Mariam pediu que Jalil a levasse em um de seus cinemas, os adultos não gostaram da ideia, mas ele acabou concordando. No dia seguinte, Jalil não apareceu, então a menina decidiu procurá-lo, mesmo com os protestos e berros de Nana, dizendo que morreria se ela fosse. Ao chegar em Herat, Jalil não a recebeu, e, quando a menina voltou para casa, descobriu que estava sozinha.
   Após o enterro de Nana, Jalil ofereceu a filha em casamento à Rashid, um sapateiro de 45 anos que havia perdido a esposa e o filho e, o mais importante, morava em Cabul, cidade bem distante de Herat. Mesmo com a negação da menina, o pai abençoou o casamento, e foi aí que Mariam decidiu que nunca mais falaria com ele. No começo Rashid foi um bom marido, principalmente quando descobriu que a menina estava grávida... Mariam também estava feliz, pois amava a ideia de ter um ser crescendo dentro de sim mesma, mas essa alegria durou pouco. Mariam perdeu o bebê, e Rashid, o bom humor, este passou a agredir a menina e a reclamar de tudo o que ela fazia. Aos 19 anos, Mariam já havia sofrido mais 6 abortos espontâneos, e passou a invejar as mulheres que tinham a felicidade de gerar uma criança, sentia inveja de Fariba, sua vizinha que já tinha dois filhos e estava mais uma vez andando pelas ruas com uma barriga protuberante.
   Na noite do dia 27 de abril de 1978, a guerra no Afeganistão teve início e, enquanto o céu se iluminava com os clarões das bombas, Mariam era mais uma vez agredida pelo marido, e, algumas casas mais abaixo na rua, Fariba dava a luz à Laila, um doce bebê de cabelos claros e olhos verdes.

Parte 2:
   Laila estava com 9 anos e já sabia muito bem se cuidar sozinha. Desde que seus dois irmãos partiram para lutar na guerra, quando a menina tinha apenas 2 anos de idade, a mãe parecia ter esquecido que ainda tinha uma filha e passava o dia inteiro deitada na cama e com dor de cabeça. O pai, Hakim, era um homem miúdo e muito inteligente, amava a menina de todo o coração, era muito feliz e agradecido por ainda ter um dos filhos por perto e mostrava todo o seu carinho instruindo a menina para o mundo e a incentivando ao dizer que ela poderia ser o que quisesse quando crescesse.
   Acostumada com o jeito dos pais e sem sem se lembrar dos irmãos, a única coisa que realmente magoava Laila era a ausência de Tariq, seu melhor amigo, que iria passar algumas semanas fora, visitando um tio (o mesmo tio que Tariq visitou anos antes, quando era apenas um garotinho e acabou pisando em uma mina e perdendo a perna esquerda). Tariq estava presente em todas as lembranças da menina, e os dois nunca haviam passado tanto tempo separados, por isso cada dia era mais difícil de suportar a falta do amigo. Finalmente, depois de algumas semanas, Tariq voltou, então o coração da menina se acalmou novamente. Era maravilhoso ter o amigo de volta, almoçar na casa dele com sua família, jogar e fazer piadas no chão de seu quarto. Com Tariq as coisas haviam voltado ao lugar, mas, naquele mesmo dia, em sua casa, algo iria desmoronar de vez.
   Enquanto estava jantando com babi, um homem bateu à porta trazendo notícias. Ela viu o rosto do pai perdendo a cor e ouviu o desespero na voz da mãe, mas ela mesma não sentiu nada. Como poderia sentir a perda dos irmãos que ela nem chegou a conhecer de verdade? Para ela Tariq era seu verdadeiro irmão, e ele estava vivo e bem. Sua mammy, por outro lado, passou a definhar ainda mais com a morte dos filhos e só sabia viver para presenciar o dia em que os mujahedins entrariam vitoriosos em Cabul.
   Em abril de 1992, quando a menina completou 14 anos, Najibullah se rendeu e o jihad chegou ao fim. Enquanto os mujahedins se preparavam para o desfile da vitória, Fariba decidiu dar uma festa, e então a mulher resolveu também voltar ao seu papel de mãe e conversou com Laila sobre como ela e Tariq estavam crescidos... Disse que, com 16 anos, Tariq já era um homem e que não ficava bem os dois andando juntos para cima e para baixo. Laila poderia ter negado toda aquela conversa da mãe, mas não poderia negar para si mesma que estava apaixonada por Tariq.
   Com os inimigos fora do país, as etnias afegãs passaram a lutar entre si, e então Cabul acabou sendo jogada na guerra. Mesmo no meio de tanta matança, o amor entre Laila e Tariq floresceu, mas essa felicidade durou pouco tempo, já que, algum tempo depois, Tariq contou para Laila que ele e a família iriam deixar o Afeganistão para fugirem da guerra. Laila se desesperou. Não poderia viver sem Tariq. E quando ela começou a chorar, ele a beijou, e os dois aproveitaram aquele último momento juntos para mostrar todo o amor que sentiam um pelo outro.
   Menos de um mês depois de Tariq ter partido com sua família, uma bala perdida passou a poucos centímetros da cabeça de Laila, então sua mammy percebeu que não poderia perder mais um filho e concordou em ir embora. A menina não cabia em si de tanta felicidade, finalmente iria rever Tariq! Ela e os pais estavam empacotando as coisas que levariam e as que venderiam, e quando a menina saiu para levar algumas caixas para o lado de fora, houve a explosão. Quando ela acordou, viu apenas os rostos de um homem e uma mulher que ela não conhecia. E, depois, escuridão.


Parte 3:
   Laila estava na casa de seus vizinhos, Rashid e Mariam, e não sabia o que fazer. Seus haviam falecido e ela não tinha ideia de onde Tariq estava. Ela estava sozinha.
   Mariam e Rashid cuidaram da menina, mas assim que Mariam percebeu a intenção do marido, passou a odiar Laila, pois sabia que ele não mudaria de ideia. Alguns dias depois, um homem apareceu querendo falar com Laila e lhe deu a notícia de que havia conhecido Tariq em um hospital e que ele não havia suportado os ferimentos. Por isso, quando Rashid pediu a mãe de Laila, ela aceitou. Afinal, o que poderia fazer, para onde iria sozinha e com o bebê de Tariq no ventre?
   Rashid ficou super empolgado com a gravidez de Laila, mas passou a ser um monstro com a moça quando esta deu a luz à uma doce menininha chamada Aziza. Agora Rashid descontava toda a sua raiva nas surras que dava em Mariam e não mostrava carinho nenhum pela filha de Laila. Com o tempo, e por estarem sofrendo nas mãos do mesmo homem, Mariam e Laila ficaram amigas. Quando a moça já não aguentava mais viver na mesma casa em que Rashid, ela começou a juntar dinheiro escondido e decidiu fugir com Mariam e Aziza. As duas não conseguiram nem sair da cidade, os policiais as descobriram e as levaram de volta para casa, onde Rashid já as esperava. A partir desse dia, Rashid as deixava trancadas em casa e as surras eram cada vez mais frequentes quando ele chegava do trabalho.
   Em setembro de 1996 os talibãs chegaram, e então as mulheres foram proibidas de saírem de casa e os homens passaram a trabalhar cada vez mais e a ganharem menos. Em setembro de 1997 Laila deu a luz à Zalmai, um menininho que passou a ser toda a vida e alegria de Rashid. Enquanto as crianças cresciam, Aziza se tornou uma garotinha quieta e inteligente, e Zalmai, quando estava com as mulheres, era um menino amoroso, mas se tornava pirracento e malcriado quando estava com o pai.
   Em 2000, quando a seca atingia o país inteiro e Rashid havia perdido a loja onde trabalhava, as coisas começaram a ficar difíceis e eles precisaram vender quase tudo o que possuíam para não morrerem de fome. Por causa da situação, Mariam concordou em tentar entrar em contato com Jalil, mas acabou apenas descobrindo que o pai havia falecido anos antes. Em abril de 2001, Rashid resolveu que Aziza deveria ser mandada para um orfanato, alegando que não tinha condições de alimentar todos naquela casa. Laila ficou com o coração partido, mas não havia nada que ela pudesse fazer, por isso deixou a filha no orfanato prometendo que voltaria para visitá-la.
   Um dia, quando voltava de uma de visitas a Aziza com Mariam e Zalmai, Laila viu um homem parado em frente a casa de Rashid, e quando o homem começou a andar - mancando - em sua direção, Laila não ousou nem piscar, com medo de que Tariq desaparecesse quando ela abrisse os olhos novamente. Tariq contou o que realmente havia acontecido com ele, desmentindo a história contada pelo homem que Rashid contratou. Laila nem podia acreditar que ele estava realmente vivi, e lhe contou sobre Aziza, prometendo que o levaria para conhecer a filha na tarde seguinte. Naquela noite, durante o jantar, Zalmai contou ao pai sobre o homem estranho, o que deixou Rashid tão irado que ele chegou ao ponto de quase matar Laila, mas antes que ele pudesse fazê-lo, Mariam finalmente tomou uma decisão por ela própria e deu um fim ao homem que havia causado tanto sofrimento na vida daquelas duas mulheres. Depois disso, entregou sua própria vida para salvar as de Laila, Aziza e Zalmai, a família que ela enfim teve a felicidade de ter.

Parte 4:
   Laila, Tariq e as crianças se mudaram para o Paquistão e os dois se casaram. Passaram a trabalhar juntos no hotel de um amigo de Tariq, aos fins de semana passeavam com as crianças, Aziza criou uma relação incrível com o pai e Zalmai aceitava o rapaz aos poucos. Eram, enfim, uma família feliz. Em setembro de 2001 as Torres Gêmeas foram atacadas e os E.U.A. declararam guerra ao Afeganistão, mas, mesmo com a continuidade da guerra, Cabul voltou a ser uma cidade livre. As mulheres ganharam de volta o direito de trabalhar e andarem descobertas nas ruas, as estradas estavam sendo pavimentadas e as escolas reabertas. Na viagem de volta para o Afeganistão, Laila passou em Herat para uma última despedida a Mariam, que continuava aparecendo em seus sonhos e que estaria para sempre em seu coração. Em Cabul, Tariq e Laila reformaram o orfanato onde Aziza havia morado e agora Laila era professora daquelas crianças. Laila e sua família estavam bem e ela havia se tornado exatamente o que seu pai disse que ela poderia ser: qualquer coisa que ela quisesse.
''Naquela noite foram a Chaman e, ao lado de Rashid, Mariam viu os fogos de artifício iluminando o céu com clarões verdes, rosa e amarelos. Teve saudades das vezes em que ficou sentada junto com o mulé Faizullah, do lado de fora da Kolba, vendo os fogos que brilhavam ao longe, no céu de Herat, e aqueles súbitos clarões refletidos nos olhos doces de seu professor, já turvos pela catarata. Acima de tudo, porém, sentiu saudades de Nana. Adoraria que a mãe estivesse viva para ver isso. Para vê-la em meio a tudo isso. Para ver, enfim, que alegria e beleza não são coisas inatingíveis. Mesmo para gente como elas.''

O que eu mais gostei:
   Bom, esse é o meu segundo livro preferido, e o que eu mais amei nele foi o amor da Laila e do Tariq! Adoro esses romances de uma vida inteira, que começam quando o casal ainda é bastante jovem, e na época da história o Afeganistão está enfrentando diversas guerras, e, como eu já falei aqui, adoro romances desenrolados no meio do ódio e da matança. Sei lá, acho que mostra que sempre podem existir coisas boas, mesmo que esteja tudo desmoronando.

O que eu não gostei:
   O que eu não gostei, ou melhor, o que me deixou muito triste foi a história terrivelmente sofrida da Mariam. Fiquei feliz por ela ter conhecido um pouquinho da felicidade no final, mas ainda acho que ela merecia mais. E o pior de tudo é pensar que realmente existem mulheres que passar por tudo e até por mais do que a Mariam passou! Hoje, em pleno 2015, as mulheres no Afeganistão e em muitos outros países ainda sofrem nas mãos de homens que se julgam superiores. :/


Ps. peço desculpas pela resenha gigante, e não fiquem com raiva pelos spoilers, eles foram necessários para que eu pudesse fazer a resenha. E ela ficou grande desse jeito por que quando eu começo a escrever sobre algum livro que eu amo muito, não consigo mais parar. Ah, e leiam os outros livros do Khaled Hosseini tbm! Ele é incrível. :) Enfim, espero que vocês tenham gostado da resenha, bjos!

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